Já pensou em viver em uma cidade que garante alimentos saudáveis e gratuitos para todos, a partir de hortas que foram construídas pelas mãos de cada habitante? Em Todmorden, na Inglaterra, isto é uma realidade.  A cidade vem sendo um exemplo de como é possível transformar a vida de toda a comunidade a partir da alimentação e do cultivo da natureza. A participação popular e o questionamento sobre os hábitos cotidianos foi a força motriz que gerou a iniciativa de Pamela Warhurst e Mary Clear, que comprova que tudo começa com uma pequena semente.

Localizada na região de West Yorkshire, Inglaterra, a cidade é exemplo de como a iniciativa de um pequeno grupo de pessoas pode trazer grandes mudanças. Em 2007, Pamela participava de uma conferência sobre as mudanças climáticas do planeta quando o palestrante e professor Tim Lang sugeriu que a humanidade deveria começar a plantar seus próprios alimentos, o que acarretaria em benefícios para as pessoas e para o meio ambiente. A ideia criou raízes na cabeça de Pam, que passou a refletir sobre como cultivar mais alimentos poderia ser um gatilho para a mudança social. Após conversar com sua amiga Mary, a ideia se espalhou. Mary plantou alguns vegetais em seu jardim e colocou uma placa: “Sirva-se“, deixando estes a disposição de qualquer morador local. Esse pequeno gesto se alastrou pela cidade de 17 mil habitantes, e foi suficiente para que as pessoas começassem refletir sobre o assunto. Não demorou muito para que novas plantações começassem a surgir em diferentes áreas de Todmorden.

A semente que mais cresceu durante esse tempo foi a do projeto Incredible Edible Todmorden (ou a “Incrivelmente Comestível Todmorden“). Além de buscar uma alimentação gratuita para todos, a iniciativa buscou transformar esse ato em um motor de questionamento e participação. Para chegar a esse ponto, o projeto se baseia no que são chamados três pratos. O prato da comunidade busca unir e empoderar a população ao fazer com que as pessoas se sintam parte dos espaços públicos. O prato da aprendizagem tem como objetivo educar os cidadãos sobre a alimentação e desenvolver habilidades culinárias. Por último, o prato dos negócios é focado em fortalecer a economia local.

A princípio, este último ponto foi o que mais causou receio na população. Muitos se questionavam se a oferta de alimentos gratuitos não iria atrapalhar negócios locais. A dúvida foi sanada por um estudo de 2013, denominado “Small actions – big change: Delivering regeneration in the age of austerity”. A pesquisa apontou que 67% dos empreendimentos da cidade haviam visto um aumento na procura por alimentos produzidos localmente, enquanto 46% destes relatavam um impacto positivo nas vendas.

No mesmo ano, outro estudo indicou que após a iniciativa 97% dos residentes de Todmorden estavam comprando mais alimentos produzidos localmente e 57% deles passaram a cultivar seus próprios alimentos. Além disto, desde que as ruas se tornaram “comestíveis”, a cidade experimentou uma queda nos casos de vandalismo. Para complementar, uma pesquisa deste ano a respeito do retorno social sobre o investimento (SROI, na sigla em inglês), realizada em uma parceria entre a University of Central Lancashire e a Manchester Metropolitan University, constatou que a cada £ 1 gasto pelo grupo, £ 5,51 retornaram para a comunidade de Todmorden. O mesmo estudo expõe que o envolvimento com o projeto “Incrivelmente Comestível Todmorden“  aumentou o nível de atividade física da população e impulsionou o turismo local – que hoje gera mais de £ 80 mil anuais para a cidade.

Com tantos resultados, a ideia de depender menos das relações econômicas e mais das relações humanas se polinizou. Estelle Brown, diretora de comunicação da Incredible Edible, estima que existam cerca de 400 grupos similares ao redor do mundo – nenhum deles, infelizmente, no Brasil. Quem se habilita a ser o primeiro?

Fonte: Hypeness