As hortas urbanas são um espaço que ressignifica a cidade, resgatando os elos com os ciclos da natureza e tornando possível uma alimentação mais saudável. Além disto, elas incentivam a coletividade, trazendo diversos benefícios tanto para pessoas quanto para o meio ambiente. Para a alegria de todos, o surgimento destas hortas no Brasil está tomando uma proporção cada dia maior, e em São Paulo elas estão crescendo ao lado da Educação. Já são mais de 1,2 mil escolas públicas paulistas que mantêm canteiros que fornecem alimentos orgânicos às refeições. Nelas, outros aspectos ligados ao cultivo são postos em prática, como a produção do próprio adubo e promoção da vigilância do lixo.

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Os alunos do Marista Arquidiocesano aprendem a cuidar adequadamente das plantas na escola e a fiscalizar o descarte correto de lixo. Foto: ARI FERREIRA/ESTADÃO

Alguns exemplos destas escolas são a Escola Estadual Professor Cândido de Oliveira, no extremo sul da capital, a Escola Estadual Clorinda Danti, no Butantã, na zona oeste de São Paulo, e o colégio Marista Arquidiocesano, na zona sul. Nelas, assim como em várias outras escolas que adotam as hortas, há espaços reservados onde ocorre o cultivo de legumes, verduras, frutas e temperos, que servem como uma espécie de “laboratório vivo” para professores e alunos. Em colégios particulares as hortas também são cada vez mais comuns.

As atividades na horta tem impacto dentro das salas de aula, melhorando as aulas de Ciências da Natureza e abrindo a possibilidade do desenvolvimento de conteúdos interdisciplinares ligados a uma alimentação mais saudável e a temas relacionados à sustentabilidade. Quase todos os dias, alunos do 5º ano do ensino fundamental vão a um terreno ao lado da Escola Estadual Professor Cândido de Oliveira, em Palheiros, para ver o crescimento de sua pequena lavoura. No local eles preparam a terra, plantam sementes, regam as mudas e, periodicamente, retiram as ervas daninhas que nascem ao redor das hortaliças, garantindo o bom desenvolvimento das plantas. Quando é tempo de colheita, o aprendizado se ramifica para outras áreas de conhecimento, como a gastronomia. Após colher, os alunos  levam o alimento para a cozinha da escola, onde ele vira ingrediente para as refeições que vão alimentar todos os alunos.

“Antes, eu só pensava em doce, em comer besteira, e depois que comecei a experimentar a comida da horta, vi que os alimentos saudáveis não são tão ruins”, conta a aluna Giovanna Hessel Nunes, de 11 anos. Como outros estudantes do 5º ano, ela participa do grêmio estudantil na unidade e é responsável por preparar apresentações sobre os benefícios de produtos orgânicos, como os cultivados ali, e sobre cuidados com a natureza. Os trabalhos são apresentados às crianças mais novas, as estimulando aos hábitos da horta e, consequentemente a terem uma alimentação mais nutritiva e natural. “Quando eu falo com eles sobre alimentação saudável, eles ficam muito encantados. Eu falei que eles precisam experimentar coisas novas”, menciona Giovanna.

O plantio também auxilia as aulas da E. E. Clorinda Danti, no Butantã. No espaço de horta as crianças conhecem a importância da incidência de luz, sombra e água para o crescimento das cultivares. Além disso, elas também aprendem como aproveitar melhor restos de alimento, como cascas de banana e ovo, o que reduz impactos ambientais e dá novas perspectivas para a alimentação.

Dentro desta lógica, o terreno tem um pequeno minhocário para compostagem, onde se produz adubo orgânico a partir de sobras do que é consumido no restaurante. E até mesmo a Matemática faz parte da horta! No 4º e no 5º ano o espaço serve também para exercícios desta matéria, e os alunos medem a largura e o comprimento dos canteiros e calculam a distância ideal entre cada pé de alface. “Com as atividades na horta eles conseguem ser mais organizados e estão mais cuidadosos porque trabalham a interação e a cooperação. Eles se ajudam muito”, conta a professora Silvana Costa, que dá aula para o 1º ano do ensino fundamental. “Há uma mudança, sim, do comportamento, e essa criança também começa a se alimentar bem.”

Educação Sustentável
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Alunos cultivam verduras e legumes em horta instalada no colégio Marista Arquidiocesano. Foto: ARI FERREIRA/ESTADAO

No Colégio Marista Arquidiocesano, a horta escolar faz parte de um ciclo de educação sustentável. A ideia do projeto é que nada seja desperdiçado, o que faz com que os alunos tenham uma nova perspectiva sobre o consumo e também criem alternativas criativas e diferenciadas para a alimentação.

A ação começa na separação completa do lixo produzido na escola. O lixo orgânico é todo processado internamente: a escola tem uma composteira automática que, em cerca de uma hora, transforma os restos de alimento em adubo. E é esse adubo que abastece os jardins e as hortas do colégio. São produzidos, em média, 90 quilos por dia só de lixo orgânico. A maior parte do adubo fica guardada. Parte dessa produção já foi vendida para os pais, na última festa junina da escola, e a direção estuda como vender o resto do excedente ao longo do ano.

São cerca de 900 mudas distribuídas em canteiros suspensos e em um pequeno terreno, que também serve para aulas de Ciências. Aspectos como a Economia  também são trabalhados de forma inovadora em atividades das aulas de Inglês. Nelas, após a colheita os alunos simulam uma feira livre e negociam beterrabas, alfaces, cenouras, escarolas e temperos que plantaram.

Fonte: Estadão