Com mais de 14 mil seguidores no Instagram, Roberta Pessoa e Davis Souza narram através de fotos e vídeos sua rotina de agricultura familiar agroecológica no Sul de Minas Gerais. 

Conversamos com a Roberta e conhecemos um pouco mais sobre a sua rotina, o sucesso nas redes sociais e como é fazer parte da cadeia produtiva de alimentos no Brasil. Leia a matéria completa e conheça um pouco mais sobre a experiência:

Roberta, Davis e suas filhas em sua propriedade na Serra da Mantiqueira – MG

Nascido em 2015, a conta do @sitio_grauna surgiu para que amigos e familiares pudessem acompanhar o trabalho da Roberta e do Davis na propriedade que, no início, era apenas de pastagem!

Pergunta: Como aconteceu o sucesso nas redes sociais?

Roberta: “Percebi desde o início como nossos amigos e familiares gostavam de acompanhar o trabalho com o plantio, as pessoas na cidade se distanciaram demais do campo, não tem ideia de quanto tempo demora para se produzir uma cabeça de alface e é muito legal poder mostrar isso, os desafios, o sucesso de uma colheita linda, abrir venda direta para pessoas que acompanharam aquele cultivo e tudo mais. Ajudou muito a divulgação de delivery, feiras livres, compras coletivas, organização de cooperativas e associações. Do início de 2017 até final de 2019 fizemos delivery quinzenalmente com toda a nossa produção e de outros agricultores e uma associação próxima, vendíamos tudo pelo Whatsapp, eu ficava até espantada porque moramos isolados, no sul de minas, e conseguíamos comercializar tudo daqui para só sair do sítio na hora de deixar a caixa de alimentos dos clientes lá na cidade. Hoje ainda realizamos a venda direta, mas da nossa produção processada que enviamos por transportadora.

As redes sociais também colaboraram com a formação e aprendizagem de plantio, principalmente de manejo orgânico/agroecológico. Converso com agricultores de praticamente todos os estados do país e de agricultores de outros países. É muito interessante e rico. Aprendo todo dia, converso com quem tem a realidade semelhante ou completamente diferente da nossa, fazemos boas amizades…”

Pergunta: Como foi o ano de 2021 para O sítio graúna orgânicos?

Roberta: “2021 foi um ano difícil para a produção de alimentos principalmente por conta do clima. Tivemos no sul de Minas Gerais um verão muito seco, um inverno com geadas muito rigorosas e uma primavera bastante chuvosa.

Como respeitamos o plantio sazonal, grande parte da produção conseguiu desenvolver até a etapa de colheita, mas perdemos algumas safras inteiras como as ervilhas e as physalis que não suportaram o frio extremo e as cebolas que na fase de crescimento da cabeça em que tivemos um mês inteiro de chuvas (outubro) e nos obrigou a realizar a colheita em uma etapa em que as cebolas estavam menores do que o esperado.

Mas para o processamento da nossa produção foi um ano muito bom, conseguimos o alvará da legalização sanitária e a certificação orgânica também da nossa unidade de processamento, então em 2021 passamos a focar na produção de alimentos in natura para o processamento.”

Produção Sítio Grauna

Pergunta: Quais os principais desafios da agricultura familiar, na sua opinião?

Roberta: “Fazer agricultura é um trabalho maravilhoso, mas extremamente complexo. São muitas as etapas desenvolvidas para chegarmos na colheita. Temos que pensar em um solo de boa qualidade, na irrigação, observar a intensidade do vento, na luminosidade, nas sementes/mudas, em todo manejo específico para cada cultura, colheita, pós colheita, comercialização e processamento (no nosso caso). Tenho uma amiga agricultora que fala que a nossa empresa fica “à céu aberto”, vivendo todas as adversidades. E é realmente isso.

Por mais que façamos e trabalhamos todas as etapas de plantio com bastante sucesso, dependemos do clima para chegarmos em uma colheita farta.

Na Agricultura Familiar Brasileira ainda observo e vivo a falta de maquinários desenvolvidos para a pequena/média escala, do acesso a tecnologias que facilitaria nosso trabalho. Equipamentos leves, muitos nem automatizados, mas ferramentas práticas para algumas etapas do manejo, colheita e pós colheita. Isso facilitaria,  tornaria mais rápida e barata a produção de alimentos de muitas famílias.  A falta de linhas de crédito interessantes para as pequenas famílias do campo, programas para jovens agricultores enxergarem vantagens em continuar na zona rural, assistência técnica, linhas de incentivo para mulheres agricultoras que vivem jornadas de trabalho intermitentes e apoio na logística e comercialização da produção vegetal e processada direto do campo.

Os agricultores e agricultoras além de terem todo o trabalho e instabilidade com a produção vegetal ainda precisam se organizar com a logística e comercialização da produção. Não é fácil, a internet no campo e as redes sociais colaboraram muito em aproximar o povo que está na roça com as pessoas na cidade que querem comprar alimentos sabendo onde foram cultivados, mas ainda requer muito tempo e energia dos produtores. Quando a família produz em larga escala, geralmente acaba dependente de revendedores ou atravessadores para escoar a produção, que não necessariamente pode ser bom.

Falta um apoio mais efetivo com as famílias produtoras que perdem sua produção por conta do clima. Temos amigos que perderam hectares de hortaliças e produção de bananas com chuvas de granizo em 2021. A produção foi destruída de um dia para o outro e o prejuízo acaba ficando apenas para os produtores. As bananas de excelente qualidade, de manejo orgânico, mas por conta do granizo, ficaram com manchas nas cascas e não conseguem comercialização por conta do padrão, mesmo com o fruto por dentro perfeito. Hectares de comida nessa situação. Perderam demais a renda e é deprimente pensarmos que isso acontece (imagino que no país todo, com diversas famílias).”

Produção Sítio Graúna

 

Pergunta: Na sua opinião, quais desafios os horticultores irão encontrar no futuro?

“O desafio de produzir alimentos com o clima a cada ano mais extremo. De chegar nas variedades que se adaptam melhor às adversidades e melhor produção. Os agricultores e agricultoras também têm o grande desafio de se unir, de se organizarem em associações ou cooperativas para que juntos possam ter mais vantagens com a comercialização, compra de insumos e acesso às políticas públicas. Precisamos enxergar todos os nossos desafios no campo e cobrar para que tenhamos apoios, investimento, linhas de crédito e tudo mais o que for possível. A política está intensamente ligada à produção de alimentos.”

Processamento de alimentos no Sítio Graúna

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